Indivisível hum
Dizer com singelo "hum"
O que nem duas mil palavras
Lavradas feito escravas
Dizem em documento algum
Nem em poemas concretos
Ou nos sonetos sonolentos
Carregados de sentimentos
Sejam estes tortos ou retos
Não conseguem sequer falar
Já a boca que diz "hum" é linda
Lábios com essa lábia infinda
Dizem "hum" sem humilhar
Dizer no idioma dos "sem-língua"
O que brota no sussurro ou abeira
Todos os prantos em cachoeira
E jamais se esgota, nunca mingua
Dizer dos dois em "humm…"
Não é para qualquer uma
Há que ser milhões, em suma
Numa equação igual a um
Para consumar, dizendo "hum"
Há que elevar dois ao cubo
Juntinhos num estreito tubo
Ao som mágico do Olodum
Somente o "hum" de milhares
De palpitações em segundos
Que nem na língua dos bundos
Abunda tantos milagres
O som de "humm" que diz tanto
Reverte versos em travessuras
É um colar de sol na partitura
Na estatura em que me encanto
Cantarei sempre "hum" em mim
Enquanto vivermos, seremos um
Ao som do seu indivisível "hum"
Que diz mais que o indizível "sim"
