Só Deus satisfaz a sede de justiça
e a necessidade de amor.
Não ponho, portanto, em flores
nem nos humanos amores
minha esperança de ser amado.
Amados por Deus, temos, assim,
amor sem fim para dar e semear.
Para receber, colher, contudo,
nunca esperemos das pessoas.
Não é que elas não são confiáveis,
é que são como nós, falháveis.
Mas podemos semear o amor
com esperança de generosa colheita.
Sim, eu espero pelo amor
e pela doçura de uma convivência
sincera, suave e amorosa,
mas espero apenas em Deus.
Se eu depositar em alguém
essa expectativa, vou me frustrar
e, por vezes, teria e deixaria escapar
alguma amargura do meu coração,
e acabaria produzindo mágoas.
Ninguém deve me amar
e nem suportaria ter esse encargo
por obrigação ou constrangimento
originada dos meus desejos.
Em oposição a isso, contudo,
não por rebeldia ou por capricho,
minha poesia tateia corações
e parece esperar amor humano.
Mas é própria da poesia
essa leve e afável pescaria,
com anzóis de acalantos
e varas de maleabilidades verbais.
Se a alma se derrama em poesia,
ela é verdadeira, pois denuncia
que dependemos muito do amor.
Mas é importante sempre lembrar
que só em Deus podemos esperar.
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